quinta-feira, 28 de maio de 2009

Casal 20


Significado: Jovem casal perfeito e apaixonado.

Histórico:
O seriado "Casal 20" estreou em 1979, tornando-se um "cult" da década de 80. Robert Wagner e Stefanie Powers viveram um apaixonado casal que adora viajar pelo mundo em busca de novas aventuras, investigando e solucionando os mais misteriosos crimes. Socialmente, pessoas desse tipo recebem sempre a nota máxima, são sempre "nota 10". A união de duas personalidades dessa linha só podia resultar num CASAL 20.

Nossas palavras:
A expressão "casal 20" vai além do nome do seriado; ela se materializou em casais jovens, apaixonados, ditos pares perfeitos. Segundo a mitologia, vagamos pelo mundo em busca de nossa alma gêmea, da pessoa que apresente os princípios que mais valorizamos. Através dessa expressão, observamos que a língua, mais precisamente a língua falada, surge da necessidade de comunicação, de criar novas palavras e expressões para dar uma ideia mais precisa dos desejos de interação, de modificar as regras para que novos modos de pensar e de sentir, novos modos de interpretar a realidade sejam expressos por novos modos de dizer.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Agora Inês é morta


Significado: Quando se chega tarde a um compromisso.

Histórico: Inês de Castro era amante de D. Pedro I, antes do mesmo ser rei de Portugal. Ela era filha bastarda de um cavaleiro galego e tinha irmãos partidários da reanexação de Portugal pelo Reino de Espanha. Ao morrer a primeira esposa de D. Pedro, D. Afonso IV e seus vassalos passam a temer a influência da galega na vida política do futuro rei. Temendo pela independência de Portugal, D. Afonso IV manda matar Inês e seus três filhos com D. Pedro durante uma viagem do mesmo. Ao retornar, D. Pedro encontra sua amada Inês morta. Com a morte de D. Afonso IV, D. Pedro I assume o trono e coroa Inês, morta, sua rainha. O cadáver de Inês é colocado no trono e a realeza portuguesa é obrigada a beijar sua mão.

Nossas palavras: Essa história, contada por Camões no Canto III do livro "Os Lusíadas",ainda faz com que historiadores se debrucem sobre o caso, procurando indícios se houve ou não um casamento. Observamos que essa expressão é utilizada, por exemplo, para expressar a indignação ao se perder um ônibus ou quando uma ação não é mais possível de ser realizada. Hoje em dia, os jovens, utilizam expressões como "já era" que expressam esse mesmo sentido.

sábado, 9 de maio de 2009

Pensando na morte da bezerra


Significado: Estar distante, pensativo, alheio a tudo.

Histórico: Esta é bíblica. Como se sabe, o bezerro era adorado pelos hebreus e sacrificados para Deus num altar. Quando Absalão, por não ter mais bezerros, resolveu sacrificar uma bezerra, seu filho menor, que tinha grande carinho pelo animal, se opôs. Em vão. A bezerra foi oferecida aos céus e o garoto passou o resto da vida sentado ao lado do altar "pensando na morte da bezerra". Consta que meses depois veio a falecer.

Nossas palavras: Essa expressão popular nos mostra o poder criador da linguagem, que instaura uma realidade imaginária, anima as coisas inertes, faz ver o que ainda não existe, traz ante nós o já desaparecido. A sociedade não é possível a não ser pela língua e, pela língua, também o indivíduo.

Quem não tem cão caça com gato

Significado: Se você não pode fazer algo de uma maneira, se vira e faz de outra.

Histórico: Na verdade, a expressão, com o passar dos anos, se adulterou. Inicialmente dizia-se "quem não tem cão caça como gato", ou seja, se esgueirando, astutamente, traiçoeiramente, como fazem os gatos.

Nossas palavras: No mundo em que vivemos, a linguagem perpassa cada uma de nossas atividades, individuais e coletivas. Verbais, não verbais ou transverbais, as linguagens se cruzam, se completam e se modificam incessantemente, acompanhando o movimento de transformação e suas formas de organização social.

Onde Judas perdeu as botas


Significado:
Lugar longe, distante, inacessível.

Histórico: Como todos sabem, depois de trair Jesus e receber certa quantia em dinheiro, Judas caiu em depressão e culpa, vindo a se suicidar, enforcando-se numa árvore. Acontece que ele se matou sem as botas. E o dinheiro não foi encontrado com ele. Logo, os soldados partiram em busca das botas de Judas, onde, provavelmente, estaria o dinheiro. A história é omissa daí para frente. Nunca saberemos se acharam ou não as botas e o dinheiro. Mas a expressão atravessou vinte séculos.

Nossas palavras: Atualmente, existem variações dessa expressão. Quando se deseja dizer que um local é ainda mais distante, costuma-se trocar "botas" por "meias" ou até mesmo por "cueca". Essa expressão popular é antiga e, apesar de suas variações, continua sendo muito utilizada atualmente, tanto por pessoas mais velhas quanto por jovens. É a prova de que os ditados populares resistem ao tempo, sendo passados de geração a geração. Da mesma forma, a linguagem oral prevalesce em todas as culturas, embora esteja em constante mudança e variação. No entanto, não é a língua que muda com o tempo, são os falantes que, em sociedade, mudam a língua.

Casa da mãe Joana



Significado: Onde vale tudo, todo mundo pode entrar, mandar etc.

Histórico:
Esta vem da Itália. Joana, rainha de Nápoles e condessa de Provença (1326-1382), liberou os bordéis em Avignon, onde estava refugiada, e mandou escrever nos estatutos: "que tenha uma porta por onde todos entrarão". O lugar ficou conhecido como Paço de Mãe Joana, em Portugal. Ao vir para o Brasil a expressão virou "Casa da Mãe Joana". A outra expressão envolvendo Mãe Joana, um tanto chula, tem a mesma origem, naturalmente.

Nossas palavras: Com essa expressão notamos que a consituição de uma língua não é um fenômeno exclusivamente linguístico. Ela é um produto sociocultura, vinculado à esfera política, transformado em instrumento de poder, um fenômeno marcado historicamente.

Andar à toa



Significado: Andar sem destino, despreocupado, passando o tempo.

Histórico: Toa é a corda com que uma embarcação reboca a outra. Um navio que está "à toa" é o que não tem leme nem rumo, indo para onde o navio que o reboca determinar. Uma mulher à toa, por exemplo, é aquela que é comandada pelos outros. Jorge Ferreira de Vasconcelos já escrevia, em 1619: Cuidou de levar à toa sua dama.

Nossas palavras: Tudo o que acontece numa língua viva, falada por seres humanos, tem uma razão de ser. E essa razão não é fortuita, casual e muito menos aleatória.. É fruto da ação dos próprios falantes sobre a língua. Com essa expressão popular, aprendemos o que Marcos Bagno, linguista brasileiro, tenta nos ensinar: nada na língua é por acaso.

O pior cego é o que não quer ver



Significado: Diz-se da pessoa que se nega a ver o que está bem à sua frente.

Histórico: Em 1647, em Nimes, na França, na universidade local, o doutor Vicent de Paul D'Argenrt fez o primeiro transplante de córnea em um aldeão de nome Angel. Foi um sucesso da medicina da época, menos para Angel, que assim que passou a enxergar ficou horrorizado com o mundo que via. Disse que o mundo que ele imagina era muito melhor. Pediu ao cirurgião que arrancasse seus olhos. O caso foi acabar no tribunal de Paris e no Vaticano. Angel ganhou a causa e entrou para a história como o cego que não quis ver. Em inglês, o correspondente para esse provérbio é: "better to be blind than to see ill".

Nossas palavras: Quando uma pessoa sabe o que se passa mas finge que não vê, nega-se a ver a verdade. É interessante observar que a língua é uma atividade social, parte integrante da vida em sociedade. Os provérbios e ditados populares são criados pela necessidade que os falantes têm de se comunicar melhor, de dar mais precisão ao que querem dizer, de enriquecer as palavras já existentes com novos sentidos, principalmente os sentidos figurados, metafóricos.

Sem eira e nem beira


Significado: Pessoas sem bens, sem posses.

Histórico: Eira é um terreno de terra batida ou cimento onde grãos ficam ao ar livre para secar. Beira é a beirada da eira. Quando uma eira não tem beira, o vento leva os grãos e o proprietário fica sem nada. Na região nordeste este ditado tem o mesmo significado, mas uma outra explicação. Dizem que antigamente as casas das pessoas ricas tinham um telhado triplo: a eira, a beira e a tribeira, como era chamada a parte mais alta do telhado. As pessoas mais pobres não tinham condições de fazer este telhado; então, construíam somente a tribeira, ficando, assim, "sem eira nem beira".

Nossas palavras: Ditado empregado para designar pessoas sem recursos financeiros e sua utilização vai mais além, pode significar também pessoa sem norte, sem rumo, sem definição na vida. Ex: Ele leva a vida sem eira nem beira. Assim como cada posição social tinha um tipo de telhado diferente, cada posição social tem sua linguagem, como afirmam os sociolinguistas. É o fenômeno da variação linguística, no qual a língua varia de acordo com a cultura, a posição social e a instrução de um determinado grupo.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Santinha do pau oco

Significado: Expressão que se refere à pessoa que se faz de boazinha, mas não é.

Histórico: Nos séculos XVIII e XIX os contrabandistas de ouro em pó, moedas e pedras preciosas utilizavam estátuas de santos ocas por dentro. O santo era "recheado" com preciosidades roubadas e enviado para Portugal.

Nossas palavras: Essa expressão é muito utilizada em Minas Gerais, devido à grande descoberta e extração de ouro nos territórios mineiros naquela época. O povo mineiro, muito adepto às tradições católicas, reflete em seus falares esse apego religioso, mostrando como a língua é um fato social e cultural. A língua, como nos demonstra a Sociolinguística, é o suporte de uma dinâmica social, que compreende não só as relações diárias entre as pessoas, mas também uma atividade intelectual, que vai desde o fluxo informativo dos meios de comunicação de massa até a vida cultural, científica e literária.

Tirar o cavalinho da chuva

Significado: Não esperar por determinado acontecimento ou ação.

Histórico: No século XIX, quando uma visita iria ser breve, deixavam o cavalo ao relento, em frente à casa do anfitrião. Caso a visita fosse demorar, colocavam o animal nos fundos da casa, em um lugar protegido da chuva e do sol. Contudo, o convidado só poderia pôr seu cavalo protegido da chuva se o anfitrião percebesse que a visita estava boa e dissesse: “pode tirar o cavalo da chuva”. Depois disso, a expressão passou a significar a desistência de alguma coisa, a perda de uma esperança ou ilusão.

Nossas palavras: Usamos essa expressão sempre que não queremos algo, por exemplo, quando um colega pede para fazermos um trabalho para ele, dizemos em alto e bom som: Hiiii... pode tirar o seu cavalinho da chuva! Essa é uma maneira simples, curta e divertida de dizer não. O histórico dessa expressão é um exemplo de que a língua é heterogênea, instável, variável e está sempre em desconstrução e construção. A língua é uma atividade social, um trabalho coletivo, empreendido por todos os seus falantes, cada vez que eles se põem a interagir por meio da fala, como nos ensina Marcos Bagno, importante linguista brasileiro.






Névoa baixa, sol que racha


Significado: Quer dizer que o sol será escaldante ao longo do dia.

Histórico: Ditado muito falado no meio rural. A Climatologia o confirma. O fenômeno da névoa ocorre geralmente no final do inverno e começo do verão. Conhecida também como cerração, a névoa fica baixa pela manhã provocando um aumento rápido da temperatura no período da tarde.

Nossas palavras: Essa expressão, de origem rural, se estendeu para os os centros urbanos, onde também é muito falada. Ela descreve um dia que nasce com neblina baixa mas tem sol forte ao longo do dia. Antigamente não existia recursos para previsão do tempo, portanto era a natureza que dava as coordenadas para a vida no campo. Segundo a Sociolinguística, a linguagem está intimamente relacionada a fatores etnológicos e sociológicos de uma dada civilização. Esta expressão nos faz compreender as teorias de Humbold, segundo as quais a língua organiza a visão do mundo, peculiar a cada povo.

Bons ventos o trazem


Significado: Seja bem vindo. Quando recebemos uma visita esperada, temos um encontro agradával ou quando quem esperamos fez boa viagem, dizemos que foram os bons ventos que o trouxeram até nós

Histórico: Esta frase foi uma saudação do prefeito do Distrito Federal (Rio de Janeiro) a Alberto Santos Dumont quando este desembarcou no Brasil.

Nossas palavras: O vento, ou seja, o ar em movimento, tem a capacidade de deslocar com ele diversos objetos. O vento desenvolveu um papel muito importante na história da humanidade, pois houve época, como a dos grandes descobrimentos, em que as embarcações dependiam unicamente do vento para se mover. Ele foi muito utilizado também para movimentar moinhos e foi essencial na aviação. No caso de Santos Dumont, aeronauta e inventor brasileiro, essa expressão foi muito adequada, pois ele é considerado o inventor do avião e o pai da aviação. Esse ditado popular é a prova de um dos grandes fundamentos ensinados pela Sociolinguística: a de que a linguagem representa a forma mais alta de uma faculdade que é inerente à condição humana - a faculdade de simbolizar.

Bem vindos!!!


Bem vindo ao Blog Na boca do povo!


Este blog é a concretização de uma proposta de trabalho interdisciplinar final da disciplina "Seminário Interdisciplinar III e V" do curso de Letras da Funedi/UEMG, cujo objetivo é propiciar a integração entre teoria e prática, com a finalidade de promover uma reflexão sobre o processo de ensino-aprendizagem utilizando o computador como ferramenta, já que a disciplina tem como tema as Tecnologias da Informação e da Comunicação.

Nosso objetivo é ensinar um conteúdo dentro do campo das linguagens utilizando o Blog, pois acreditamos que essa é uma ferramenta pedagógica que pode trazer inúmeros benefícios para o processo de ensino-aprendizagem. O blog pode ser um novo canal de comunicação para a educação, incentivando o convívio e a aprendizagem de novas tecnologias.

Na tentativa de unir ensino e linguagem, escolhemos o tema "Provérbios e ditados populares", que, por serem enunciados de origem popular e de cultura eminentemente oral, casam perfeitamente com outro tema estudado no curso de Letras: a Sociolinguística.

O ditado popular, como o próprio nome diz, é a expressão que através dos anos se mantém imutável, aplicando exemplos morais, filosóficos e religiosos. Os provérbios e os ditados populares constituem uma parte importante de cada cultura. Historiadores e escritores já tentaram descobrir a origem dos ditados populares, mas essa tarefa não é fácil. Se você tem curiosidade de saber a origem e o emprego de curiosas expressões populares, bons ventos o trazem aqui!